Por Ivan Lopes*
Começo o meu dia e o meu texto citando uma das minhas grandes fontes de inspirações: Willian Shakespeare. O dramaturgo disse que “Levamos a vida inteira para conquistar a confiança e um segundo para destruí-la”.
Pois bem, desde domingo passado eu fiquei pensando se escreveria algo ou não sobre o caso do jovem Jeferson de Souza Medeiros, o qual estava comemorando o aniversário de 22 anos no último sábado e na manhã do domingo acabou sofrendo várias paradas cardíacas e veio a óbito em Macapá.
Confesso que o meu receio maior seria causar algum desconforto com os familiares da vítima, pois ela era primo da minha esposa e tenho grande apreço por todos os seus entes queridos, especialmente pelo pai, avós e tios. O fato é que o caso ganhou enorme repercussão e todo mundo se achou no direito de atirar pedras contra a vítima, jogando-a na vala comum como se todos os nossos jovens fossem uns extraterrestres irresponsáveis, desobedientes e vadios.
Como sempre, os donos da verdade das redes sociais começaram a levantar a hipótese de que o mesmo teria falecido em consequência do uso de bebidas alcóolicas somado a outras substâncias entorpecentes.
Como sempre, os donos da verdade das redes sociais começaram a levantar a hipótese de que o mesmo teria falecido em consequência do uso de bebidas alcóolicas somado a outras substâncias entorpecentes.
Ouvimos e vimos comentários e julgamentos de todos os tipos possíveis, entretanto, poucos tiveram a retidão e o bom senso de se colocarem no lugar dos pais e de seus entes queridos. Mesmo assim, consigo compreender como funciona a mentalidade humana, inclusive daqueles que fazem tanto proselitismo religioso, mas vive a fazer julgamentos precipitados sobre os outros.
O que posso afirmar categoricamente é que Jefferson Medeiros não era um jovem do tipo que estão pintando por aí de forma covarde e desrespeitosa, afinal, não é qualquer um que com 17 anos que fica em terceiro lugar num vestibular da Universidade Federal do Amapá. Neste ano ele concluiria o curso de Relações Exteriores e sempre foi visto pelos seus professores e colegas como um jovem promissor, responsável e um exímio pesquisador. Jefferson Medeiros era de extrema confiança dos seus pais, não era acostumado a ingerir bebidas alcóolicas e nem apresentara outros problemas desta ordem.
Em entrevista à TV Amapá, o pai do jovem, Flávio Medeiros, confirmou de que confiava muito no filho e o deixou comemorar o aniversário sem qualquer receio. Consternado, ele disse ainda que acredita na possibilidade de uma “sabotagem” por parte de alguém. Flávio também reclamou da demora no atendimento médico.
Apesar de que outros jovens que estavam na mesma festa passaram a fazer publicações nas redes sociais afirmando que o rapaz – que morreu no Hospital de Emergências de Macapá – teria feito uso de álcool e outras drogas durante a festa, o delegado que investiga o caso, Ronaldo Coelho, tem encontrado dificuldades para tomar depoimentos espontâneos a respeito do caso.
Tenho quase 23 de experiência como professor e posso afirmar muito bem que os pais dificilmente conhecem os seus filhos. Nessas mais de duas décadas, quantos segredos inimagináveis foram a mim revelados sem que os pais dos meus alunos e alunas nunca tenham suspeitado nem em sonhos! O caso do Jefferson Medeiros carece uma profunda reflexão de todos os nossos pais, não para que comecemos a desconfiar dos nossos filhos e de todos os jovens, mas também para que possamos ser mais responsáveis no julgamento com os filhos dos outros. A verdade é que a gente não conhece nem a si mesmos, mas não perdemos o sórdido hábito de julgar e condenar sumariamente as atitudes dos outros. É como se tudo isso nos causasse um alívio e anestesiasse os nossos próprios erros.
Ao invés de jogar pedras naquele caso em que não há mais solução, aproveite o exemplo e busque fazer algo pelos seus filhos que ainda estão vivos. Infelizmente, o estimado Jefferson não será o último. Estamos com as nossas escolas lotadas de meninos e meninas usando drogas à luz do dia e todo mundo fingindo que o problema não existe, mas quando acontecer algo muito grave irão aparecer os defensores da moralidade e dos bons costumes, especialmente nos microfones das rádios e nas redes sociais!
Somos humanos, seres essencialmente hipócritas.
*Professor, Licenciado em Pedagogia e Letras, pós-graduado em Gestão e Docência do Ensino Superior e formando em Jornalismo.
*Professor, Licenciado em Pedagogia e Letras, pós-graduado em Gestão e Docência do Ensino Superior e formando em Jornalismo.
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